A agricultura urbana é uma alternativa que está se disseminando em grandes cidades como São Paulo. Além de produzir alimentos mais frescos para o preparo de pratos, o setor de foodservice pode contribuir ao apoiar essas iniciativas ao comprar os ingredientes de produtores locais para o preparo de seus pratos.
O que é agricultura urbana e sua importância para as cidades grandes como São Paulo?
Alimentar a população de uma cidade grande como São Paulo, que conta com mais de 11,45 milhões de habitantes (Fonte: IBGE/2022) não é tarefa fácil. Mas a agricultura urbana tem dado sua contribuição ao produzir alimentos dentro dos grandes centros consumidores. Mas o que é essa atividade? Calma, a gente explica: a agricultura urbana consiste no cultivo, no processamento e na distribuição de alimentos dentro do perímetro urbano.
A agricultura urbana pode ser instalada em espaços ociosos desocupados. Existem dois tipos, a agricultura horizontal e a vertical. Entende-se como agricultura horizontal aquela cultivada em terrenos planos; enquanto que a agricultura vertical pode ser feita em espaços menores e os vasos ficam em camadas, como prateleiras, normalmente em ambiente controlado.
Mas, independentemente do seu tipo, as hortas urbanas são uma solução que pode atender grandes cidades ao fornecer alimentos frescos e de alta qualidade. Outro fator positivo das hortas urbanas é que sua área de cultivo está próxima do mercado consumidor, ou seja, perto de estabelecimentos, como restaurantes e cafeterias, por exemplo.
Relevância para o foodservice – a conexão entre a produção urbana de alimentos e o setor de restaurantes e cafeterias
A agricultura urbana estabelece uma ótima conexão com restaurantes e cafeterias, pois a proximidade das áreas de cultivo permite o frescor no foodservice ao trabalhar com produtos recém-colhidos, pois mantém seus nutrientes mais preservados. Essa aproximação ajuda os estabelecimentos a trabalharem com pratos baseados em produtos de época, a ter custos menores e elaborar cardápios personalizados por ter à mão ingredientes exclusivos diretamente dos produtores.
Programa Sampa Mais Rural da Prefeitura de São Paulo
A Prefeitura de São Paulo criou, em 2020, o programa Sampa Mais Rural. Implementado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, o programa integra as zonas rurais e urbanas, totalizando cerca de 28% de todo o território da cidade.
Objetivos e estrutura do programa Sampa Mais Rural
Entre os objetivos do programa estão: desenvolver novos espaços para a agricultura dentro da cidade; ampliar a produção agrícola; reduzir os impactos da crise climática em São Paulo.
Para atingir seus objetivos, são feitas ações no sentido de viabilizar o programa, como:
- Expandir a assistência de especialistas e a extensão rural oferecendo apoio técnico e capacitação aos agricultores urbanos e, com isso, promover seu aumento de renda e a inclusão econômica;
- Promover o desenvolvimento da sustentabilidade alimentar por meio de um cultivo mais natural, sem o uso de agrotóxicos, que ajuda o meio ambiente e contribui para evitar a mudança climática;
- Estruturar novos locais para serem utilizados na agricultura urbana a fim de ampliar a oferta e favorecer a comunidade local.
Estruturalmente, o programa Sampa Mais Rural conta com Casas de Agricultura Ecológica (CAEs) que oferecem assistência técnica e capacitação aos agricultores. As CAEs estão localizadas em três regiões da cidade (sul, leste e norte). Possui também, uma Unidade Demonstrativa de Bioinsumos em Parelheiros (zona sul) que produz insumos orgânicos utilizados como adubo. Conta ainda, com uma plataforma digital – Sampa+Rural – que reúne mais de 2.400 iniciativas agrícolas, turismo e alimentação saudável na cidade, e conecta produtores, consumidores e estabelecimentos que comercializam seus produtos.
Impactos do programa – benefícios trazidos pelo programa para a cidade e para o setor foodservice
O programa Sampa Mais Rural tem impacto forte para a cidade de São Paulo e no setor de foodservice. Os moradores da cidade têm acesso a alimentos de melhor qualidade, pois são mais frescos e cultivados sem o uso de agrotóxicos. O frescor no foodservice permite elaborar receitas mais saudáveis com nutrientes ainda preservados, fortalece a economia local e promove a inclusão econômica da comunidade onde a agricultura urbana está inserida.
Os estabelecimentos do setor de foodservice também são beneficiados por utilizarem ingredientes mais puros em suas receitas, e a proximidade dos produtores rurais com seu restaurante ou cafeteria contribui para reduzir custos e ter alimentos mais saudáveis para oferecer.
Desafios da produção e distribuição sustentável
A agricultura urbana tem grandes desafios, muito em parte por estar implantada em áreas densamente povoadas, que já é um fator limitante para sua expansão. Passa também pelo esquema logístico entre o produtor até o consumidor final, e entra na questão da sustentabilidade, mas vamos explorar cada tema a seguir:
Barreiras na agricultura urbana – principais desafios enfrentados na produção urbana de alimentos
Existem grandes desafios a serem superados. Mas com criatividade e muita boa vontade, os obstáculos estão sendo transpostos.
- Expansão: grandes centros têm pouca oferta de terrenos disponíveis para instalação de uma agricultura urbana. Encontrar alternativas é um grande desafio, mas algumas experiências estão sendo implementadas, como terraços de centros comerciais, quintais das casas, lotes onde estão instaladas torres de transmissão, etc. Vamos ver bons exemplos mais adiante.
- Solo: antes do plantio, o solo precisa ser tratado para eliminar qualquer tipo de contaminação devido à poluição ou por dejetos impróprios que possam ter sido depositados no local. Técnicas agrícolas modernas beneficiam o solo e os deixam próprios para o cultivo. Existe ainda, a técnica de hidroponia, onde as plantas são cultivadas apenas com água, mas com o ambiente totalmente controlado. Esse tipo de cultivo é muito utilizado na agricultura vertical.
- Água e recursos naturais: nem sempre os terrenos têm em suas imediações alguma fonte de água, então é preciso realizar a irrigação artificial para regar as plantas e dar a elas os nutrientes necessários para o seu pleno desenvolvimento.
- Poluição: grandes centros urbanos estão sujeitos à poluição ao redor do cultivo, neste caso é necessário providenciar meios de proteger a plantação para evitar que se contamine com os poluentes, seja pelo ar ou pela água.
Da horta urbana ao restaurante – logística e estratégias para a distribuição eficiente de produtos da agricultura urbana para restaurantes e cafés
A proximidade da fonte produtora de alimentos de um restaurante ou cafeteria é um ponto que favorece o cultivo de hortas urbanas. Pois veja só: a logística é menos complicada e o transporte pode ser feito com veículos pequenos. O próprio estabelecimento pode se encarregar de buscar os itens no dia em que serão preparados, já que a distância é menor. Tudo pode ser resolvido sem burocracia e sem grandes esperas.
Hortas escolares e pedagógicas
Dentro do conceito da agricultura urbana, existem escolas que promovem iniciativas como a agricultura pedagógica em seu currículo. É uma atividade que traz maior integração entre os alunos, pois eles praticam todo o processo, desde a preparação da terra até a colheita.
A participação de professores, pais e a comunidade onde a escola está inserida incentiva os alunos e é fundamental para o sucesso do projeto.
Implementação e benefícios – como as hortas escolares contribuem para a educação ambiental e alimentar
Durante as aulas da agricultura pedagógica, os professores podem associar a atividade às disciplinas tradicionais, como biologia, geografia, matemática e até mesmo, economia, ao explicar quais recursos são necessários para manter a plantação sempre produtiva.
Sem dúvida, nesse tipo de atividade, o maior ganho é a conexão dos alunos com a natureza. Eles podem entender, na prática, a importância do meio ambiente e quais condições as plantas precisam para poderem produzir os alimentos.
Ao colher aquilo que foi plantado, os estudantes ficam sabendo todo o processo necessário para o cultivo e a colheita dos alimentos, isso pode despertar o interesse e o gosto por consumir produtos saudáveis.
Outro ponto positivo é a colaboração que ocorre nessa atividade. Todo o processo pede a integração e o trabalho em grupo e acaba se tornando uma forma de todos colaborarem para um bem comum.
Como vimos, a instalação de uma horta nas escolas contribui para maior consciência ambiental, uma vez que a agricultura precisa de locais sem poluição para ser produtiva e gerar alimentos saudáveis. Ajuda ainda a compreender a origem dos produtos. Essa compreensão dos ciclos da natureza, vendo os alimentos se desenvolverem, desperta maior ciência sobre a importância de cuidar do meio ambiente.
Exemplos de sucesso – casos de sucesso de hortas pedagógicas em escolas de São Paulo
No Centro Educacional Unificado (CEU) da Vila Atlântica, na zona norte de São Paulo, foi implantado o projeto Horta no CEU Vila Atlântica. Alunos e professores criaram uma horta comunitária que produz alimentos utilizados na merenda escolar. A iniciativa fez aumentar o consumo de frutas e vegetais dos alunos e tornou-se um exemplo pedagógico de sucesso.
A criação da horta no ambiente escolar pode ser um recurso educacional importante, pois coloca os alunos em contato direto com a natureza e desenvolve neles maior consciência ambiental e sobre a importância do reforço nutricional na comida local.
Na Escola Estadual Alcides da Costa Vidigal, que fica no bairro Jardim Peri Peri, na zona oeste de São Paulo, uma das disciplinas é o cuidado com a horta que existe nas dependências do colégio. Os alunos cuidam de todo o processo, desde o preparo da terra, a escolha das sementes, a adubação orgânica, a irrigação adequada até a colheita do que foi plantado.
Junto com o aprendizado do cultivo são associados conceitos de biologia, ecologia, matemática e alimentação saudável, pois o que é produzido é servido nas refeições da escola. Mas o aprendizado vai além das matérias pedagógicas, criar hortas escolares oferece aos alunos o senso de responsabilidade e o espírito colaborativo, já que sempre trabalham em grupo.
Potencial da agricultura urbana em São Paulo
A demanda por alimento em São Paulo é enorme. Alimentar uma população de mais de 11,45 milhões de pessoas requer uma produção crescente, eficiente e diversa. A agricultura urbana é uma excelente alternativa, pois contribui para que a população residente próxima às áreas de cultivo tenha acesso a alimentos saudáveis e ainda contribui para oferecer segurança alimentar.
Cobertura e potencial – a extensão da agricultura urbana em São Paulo e seu potencial para atender à demanda alimentar da cidade
A horticultura urbana em São Paulo está cada vez mais ocupando espaços que antes eram ociosos. Um bom exemplo são os terrenos da cidade por onde passam as linhas de transmissão de energia elétrica. Segundo o secretário-executivo de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, Antonio Fernando P. Pedro, cerca de 7.000 hectares desses terrenos já são ocupados para uma produção local de alimentos. São produzidas mais de cinco toneladas de alimentos por mês.
Terraços, quintais e terrenos baldios localizados em diversos bairros da capital também podem se transformar em espaços produtivos e atender a população local ao realizar a distribuição de alimentos à comunidade.
Outro destaque que mostra o potencial da expansão da agricultura urbana é o caso do Shopping Eldorado, localizado no bairro de Pinheiros. Lá, eles têm o projeto Telhado Verde com culturas de mais de 30 diferentes tipos de hortaliças em seu terraço de mais 6.800m².
Outra solução inteligente adotada no projeto é o uso dos restos de alimentos da sua praça de alimentação que são compostados e transformados em adubo utilizado na horta. É um bom exemplo que mostra que o foodservice sustentável pode beneficiar muita gente.
Contribuição para a segurança alimentar – como 20% da demanda por alimentos pode ser atendida pela produção local, reduzindo a dependência de fontes externas
As distâncias entre a fonte produtora de alimentos e o local onde as pessoas vivem é um fator preponderante no aumento do custo dos produtos. Nessa logística estão inclusos o frete, o gasto com o combustível e o desperdício de alimentos que ocorre durante essa cadeia de abastecimento são pontos que fazem com que o alimento fique muito caro ou não chegue a quem mais precisa.
Com a agricultura urbana que cria uma cadeia de suprimentos local, a dependência de produtores distantes é menor e como o cultivo é feito dentro da própria cidade, o custo relativo à logística diminui. Além do custo reduzido, o ganho nutritivo também é um ponto favorável, pois os alimentos são mais frescos e cultivados de forma orgânica, sem o uso de agrotóxicos.
Benefícios da agricultura urbana para o foodservice
Não é só a população local que é beneficiada pela agricultura urbana. O setor de foodservice também pode ter ganhos significativos como:
- ter alimentos mais frescos para elaboração de pratos com melhor qualidade;
- ter uma fonte de produção mais próxima do restaurante ou cafeteria;
- ajudar na redução dos custos pela diminuição de frete;
- contribuir para o fortalecimento da comunidade local;
- diminuir o impacto ambiental na produção de alimentos,
- entre outros benefícios.
Frescor e qualidade dos produtos – vantagens de utilizar produtos frescos e locais no setor de foodservice
Saber a procedência do alimento e que um prato utilizou ingredientes recém-colhidos de uma horta, por exemplo, faz toda a diferença aos olhos e ao paladar dos clientes. Isso mostra o cuidado com o frescor no foodservice e a preocupação que um restaurante ou cafeteria tem no preparo de suas receitas.
A distância menor entre a área de cultivo e o estabelecimento, típica da agricultura urbana – já que sua localização está inserida no grande mercado consumidor – favorece o frescor dos alimentos. Isso se traduz na qualidade dos pratos, pois os nutrientes ainda estão preservados e, na maior parte das vezes, a agricultura urbana opta pelo cultivo orgânico, muito mais saudável que realça o sabor dos alimentos. Possibilita ainda, criar cardápios sazonais de acordo com a época de determinado produto, permitindo uma experiência gastronômica inovadora e mais autêntica.
Relações com a comunidade local – como a adoção de práticas sustentáveis fortalece a relação dos estabelecimentos com a comunidade local
A produção local de alimentos também é uma forma de integrar restaurantes e cafeterias com a comunidade. Ao adquirir itens dos produtores locais, o setor de foodservie contribui para gerar mais renda para o pequeno produtor, diminui a pegada de carbono e amplia o engajamento de outras pessoas ou estabelecimentos para favorecer a economia local.
Resumindo a agricultura urbana e sustentabilidade no foodservice
Vimos que a produção local de alimentos traz uma série de benefícios para o setor de foodservice, além de ser uma atividade bastante sustentável, mas vamos recordar esses pontos.
A agricultura urbana promove uma cadeia de benefícios em diversos aspectos:
- Sustentabilidade: por utilizar um cultivo orgânico, dispensa o uso de agrotóxicos e ajuda a diminuir a pegada de carbono;
- Qualidade: os alimentos orgânicos são mais saudáveis e resultam em pratos com sabor de melhor qualidade;
- Frescor dos alimentos: a proximidade do local de produção com o mercado consumidor permite oferecer alimentos mais frescos;
- Redução de custos: a localização próxima ao centro consumidor diminui o custo de frete e combustível;
O maior desafio enfrentado pela agricultura urbana é em relação aos espaços disponíveis nas grandes cidades. Qualquer lote ocioso é prontamente alvo da especulação imobiliária para a construção de edificações. Expandir a ideia de promover a produção local de alimentos para diversos pontos da cidade pode trazer uma ocupação mais consciente dos espaços e os estabelecimentos terão mais variedade para adquirirem ingredientes mais saudáveis.
Experimente utilizar produtos de uma horticultura urbana que esteja próxima do seu estabelecimento. Com isso poderá criar pratos com alimentos mais frescos e de melhor qualidade. Além de reforçar os laços com produtores locais, irá contribuir para ajudar a comunidade. A agricultura urbana e sustentabilidade andam juntas e é uma atividade que as pessoas acolhem positivamente e pode ser um ponto a favor para os seus negócios, pense nisso!
